sábado, 4 de abril de 2020

Fumaça

A presença praticamente transparente e sutil
Mais admirada pela criança e o senil
Como a bailarina graciosa ao som do vinil
Traça formas e de um traço desdobram-se mil

O instante não é suficiente para perceber
Pois sua transformação é a constante vital do seu ser
Esse apreço tem vasto preço
E seu auge é no entanto o fim de um começo
Para quem olha, pois seu final é de imperceptível desfecho

Se desfalece no ar e mesmo assim sua presença é de admirar
Encanta quem a consegue ver, pois quem apenas a olha não vê
Que a vida é exatamente esse ser e não ser

Nasce no destino certo que é morrer
Mesmo assim não deixa de ter
Belos e inúmeros nuances
Em tons acinzentados que certas horas chega a empretecer
Afugenta a luz e não deixa claro a que objetivo pertencer

Obviamente não haveria razão
Se saber para onde vão para que seguí-las então?
Mas transformação é a resposta da questão
Charmoso é exatamente não ter exatidão
Permite sentidos serem depósitos
Sentimentos terem propósito
E a vida não ser algo meramente numerológico

Todavia há diversas variáveis na equação
Na fórmula que é única para cada vida em ação

Mas manipular a previsão não é complicado
Para aperfeiçoar o resultado
Feche as portas e janelas
Desligue sons e cantorias
Controle o ar e a euforia
Agora aprecia
Vida sem graça, sem gosto, sem total sintonia
Perceberas que a fumaça em total controle
É densa e não dança, sem energia
Por fim, coloque um espelho
Na frente da sua cara lavada
E responda
Até quando sua fumaça ficará sufocada?

terça-feira, 3 de março de 2020

Me Desfruto

Maracujá azedo
Me assemelho a você

Floresço com muita luz
Me enrolo na vida que me conduz
Fácil me perceber
Pelas flores que rego
Na tonalidade das cores que entrego
Mas me nego a matar a lagarta
Que de mim se alimenta
Sou parte deste ser

Maracujá azedo
Me assemelho a você

Alguns me aturam disfarçados
Com açúcar me engolem contrariados
Uma necessidade inconsciente em me pertencer
Ajudo mais que atrapalho
Refresco no dia ensolarado
Até curo àqueles que no íntimo me conhecer

Maracujá azedo
Me assemelho a você

Porém sou de frágil a delicado
Em minhas vivas veias
Só tem seiva do puro conhecer
O sentimento exalo ao anoitecer
A inspiração inicia no amanhecer
Tesão na essência, paixão que afugenta
Somente uns saboreiam a experiência 
Deste singular dossiê

Maracujá azedo
Acho que sou você

--Tadarilho

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

SOMA

Ela queria pintar o mar, fotografar o céu, um poema recitar
Fez artes plásticas, curso de fotografia e aulas de filosofia
Tudo o que queria ela ia e fazia
Todavia, um sentimento dela não se esvaía
Ela se sentia plena e vazia
Era de aquário, mas de sagitário se sentia
Amava o dia mas a noite era quando saía
"Maldita dualidade!" - Ela dizia


E no dia-a-dia sendo, foi. Fazendo, fez. Vivendo, viveu
Experimentou paixões conhecendo as desilusões
Percebeu o lado sombrio das razões
No qual, seja no ódio ou amor, bate incontrolado o mesmo coração
E comandado, o lábio beija a testa 
Noutra hora com pressa pronuncia difamação
Tantas dúvidas em questão, descritas em pinturas, fotografias e poesias
Só expressão


Dentre as subtrações que lhe ensinaram o valor
Das multiplicações que contribuiu com louvor
As imensuráveis divisões feitas sem pudor
O amor lhe preencheu com fulgor
E em seu último momento de vida
Ela era tudo e mais nada, compreendia
E não se sentindo mais vazia
"Eu sou soma!" - Ela dizia



-- Tandarilho

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Jardineiro Complacente

Marte não é tão longe assim
Só que quando voltei parecia que tudo estava no fim

A água tinha gosto de sacanagem retorcida
A areia judiada de pegadas estava vencida
Uma fruta-pão com glúten se assumia
E no café da manhã o alérgico psicossomático morria

Me assustar não faria diferença
Cara feia era máscara da sentença
Na qual o baile permitia e eu não quis desavença
Tratei de tirar os olhos e fui na crença

E percebendo pela essência pude averiguar
Que o restaurante vendia pedra, mas era ouro ao cobrar
Meu jantar precisou ser música e fui me saciar
Com o vento de maître e o sol sommelier tratei de me acalmar

O lugar perecia mas era indulgente
Quase todos estrangeiros, muita gente
Apelei a Deus todo clemente
Estou no lugar certo ou é loucura da mente?

Calma essa alma filho fulgente
Disse a voz que não se ouve, se sente
Me acalmei, respirei e fui presente
Pude entender e compreender que o tempo é algo surpreendente

Estive longe e foi rápido pra mim
Outro se apaixonaram pelo lugar, a vida é assim
E sem minha presença o lugar se permitia, mas sem dizer sim
Tudo acontecia porém tratei de dar fim

O dono musical do jardim tinha aterrissado
Parecia coadjuvante mas era dono do cercado
O lugar deveria ser usado só por abençoados
E na poda do cultivo sendo ousado
Limpando, cortando e adubando os maltratados
Percebi! Todos precisavam apenas ser amados.

--Tandarilho


sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Paralelo à mente: o Universal

Estado mental atraído pelo sinal sonoro
Pulsar do coração confirmado pelo desfibrilar notório
Reação corpórea ancestral manifestada na forma introdutória
É a alma que desprende e ama essa tal nova história

Conto o que se sabe
Mas o encanto está no que não sei
Só a alma sente
Aquilo que escutei

Ouve-se à distância o convite ao arrebatamento
O caminho é sombrio, mas não há sofrimento
Distrações materializadas nos seios desnudos do pensamento
Ignora! Além do vácuo ocorre um grande movimento

Tempo é precioso, porém irrisório no momento
Um trajeto proveitoso inspira qualquer comportamento
Trair a distração ajuda o sentimento
Em cada pisada se unificar com primordial elemento

É ter fogo, ar, terra e água como vertentes elementais
Abstratas à mente, ao espírito concretamente vitais 
Sentidos não sentem, são apenas conversores universais
Transportam paralelamente à alma por aspectos subliminais

-- Tandarilho