sábado, 4 de abril de 2020

Fumaça

A presença praticamente transparente e sutil
Mais admirada pela criança e o senil
Como a bailarina graciosa ao som do vinil
Traça formas e de um traço desdobram-se mil

O instante não é suficiente para perceber
Pois sua transformação é a constante vital do seu ser
Esse apreço tem vasto preço
E seu auge é no entanto o fim de um começo
Para quem olha, pois seu final é de imperceptível desfecho

Se desfalece no ar e mesmo assim sua presença é de admirar
Encanta quem a consegue ver, pois quem apenas a olha não vê
Que a vida é exatamente esse ser e não ser

Nasce no destino certo que é morrer
Mesmo assim não deixa de ter
Belos e inúmeros nuances
Em tons acinzentados que certas horas chega a empretecer
Afugenta a luz e não deixa claro a que objetivo pertencer

Obviamente não haveria razão
Se saber para onde vão para que seguí-las então?
Mas transformação é a resposta da questão
Charmoso é exatamente não ter exatidão
Permite sentidos serem depósitos
Sentimentos terem propósito
E a vida não ser algo meramente numerológico

Todavia há diversas variáveis na equação
Na fórmula que é única para cada vida em ação

Mas manipular a previsão não é complicado
Para aperfeiçoar o resultado
Feche as portas e janelas
Desligue sons e cantorias
Controle o ar e a euforia
Agora aprecia
Vida sem graça, sem gosto, sem total sintonia
Perceberas que a fumaça em total controle
É densa e não dança, sem energia
Por fim, coloque um espelho
Na frente da sua cara lavada
E responda
Até quando sua fumaça ficará sufocada?